Crítica: ‘Help Me, Eros’(2007), de Kang-sheng Lee

Impecável do primeiro ao último plano, ‘Help Me, Eros’ é uma obra irretocável do cinema de Taiwan. Um filme duro em seus desdobramentos que, no entanto, não deixe de ter uma sutileza ímpar no momento de tratar da questão de amor no ser humano. Trataremos de temas que estão em voga na modernidade, como suicídio, solidão, melancolia, crise financeira, a procura pela perfeição e o conceito de sexo como algo vazio e fugaz. O filme é escrito, protagonizado e dirigido por Kang-sheng Lee, que é recompensado por todo seu empenho, nos propiciando uma verdadeira obra-prima.

O filme vai contar a história de Ah Jie, um jovem que acaba de perder todo seu dinheiro na bolsa de valores local e que cogita cometer suicídio. Sem rumo, Ah Jie acaba ligando para o serviço de prevenção de suicídios e começa a desenvolver um forte laço de sustentação com sua atendente. Paralelo a isso, Ah Jie também conhece, em suas andanças melancólicas pela cidade, uma jovem garota que trabalha em uma espécie de mercado, onde suas roupas curtas servem para atrair clientes, também com um sentimento de vazio com sua vida, desenvolvendo com ela uma estranha e contemporânea relação baseada especialmente no sexo. Passaremos os 103 minutos de duração do filme acompanhando esse fragmento de vida de Ah Jie e suas decisões aparentemente inócuas em relação ao mundo.

A primeira parte do filme servirá para alocar o espectador na atmosfera inconclusiva que rege os passos de Ah Jie pela cidade. Veremos a vida do jovem intrínseca a um enorme emaranhado de repetições vazias. O cotidiano do jovem se resume a uma pequena ordem de atos, como, por exemplo, comprar cigarros, fumar maconha ou assistir televisão. Em conjunto com isso, o filme irá elencar no espectador o conceito de morte mesmo ainda em vida.

Os personagens, não apenas Ah Jie, se movem sobre o mundo como uma espécie de zumbis. Todos demonstram um desalento e desânimo inerentes ao agirem, suas falas são ausentes de qualquer tipo de empolgação e suas relações interpessoais são frias. Esses indivíduos passam a clara mensagem de que, simplesmente, não querem mais estar ali, de que a vida naquela forma não é mais algo interessante para eles. E é importante neste ponto citar a noção de silêncio que impera na obra.

Essa noção de silêncio passa longe de soar como algo incômodo, seja no espectador ou nos personagens, sendo utilizado para aliviar todo o peso inserido na atmosfera do filme. Aqui o silêncio é muito mais significante do que as falas dos personagens ou, até mesmo, alguns de seus comportamentos.

Concomitante a esse modo de frio de atuar sobre o mundo e o uso do silêncio, veremos emanar dos personagens, principalmente em Ah Jie, um desejo de fuga da realidade necessária ao indivíduo. Essas pessoas sucumbem ao peso de ter a responsabilidade de viver, aqui a vida é tratada como uma sentença, procurando em alucinógenos, nas relações patológicas virtuais e no sexo, um escape para essa responsabilidade.

O sexo aqui é evidenciado como arma para toda essa inexatidão com a vida. Ah Jie vê na repetição inócua e no surgimento desse resquício de prazer o refúgio perfeito para seus problemas. O sexo surge para o filme como uma instituição banalizada e patológica do senso social moderno. E para toda essa patologização do sexo o filme vai utilizar de um senso exacerbado gráfico necessário à história.

A partir de determinado ponto do filme, quando há uma evolução aparente no relacionamento de Ah Jie com a garota do mercado, evidenciado pelo sexo, começaremos a ser “bombardeados” por uma grande utilização de cenas com conotações sexuais. Essas cenas são bastante gráficas e caminham no limiar do aceitável. No entanto, esse uso se faz completamente necessário na proposta do filme, que é de denunciar toda a frieza que tal ato, às vezes, assume na nossa sociedade.

A reta final do filme trabalhará com os trajetos finais das vidas dos personagens centrais, além de nos apresentar outros conceitos. Veremos o filme esmiuçar o conceito de solidão como algo desejado e uma forma inexorável de ver a vida. Existirá ainda uma crítica à busca incessante pela perfeição que tange nossa sociedade, onde o real é menosprezado e é iniciada uma busca niilista por algo que simplesmente não está ali. Essa busca pela perfeição e a solidão desejada emana, consequentemente, nos personagens um desespero com relação às definições da obra. Os personagens finalmente acabam percebendo que tudo que procuravam se apresentava diante deles em um momento de outrora.

O aspecto de amor, surgido durante todo o filme, é tido como uma instituição efêmera da vida. Algo curto, sem peso e de difícil trato. Algo que já surge no indivíduo com a certeza de seu fim. Essa definição de amor que o filme trabalha é resultado, na trama, de uma aceleração da vida, onde tudo é regido pelo aqui e agora, desprezando qualquer possibilidade de contemplar o momento.

A direção de Kang-sheng Lee é perfeita. Todos os planos e enquadramentos utilizados evocam no espectador um senso único de admiração pelo que está acompanhando. Os cenários utilizados, que não são poucos, sempre terão uma captação excelente pelos enquadramentos. Esses cenários, em planos internos, como apartamentos e carros, ou planos externos, como ruas e avenidas, são expostas em sua completude, onde sempre a fotografia(trabalho de Pen-Jung Liao) irá expor duas correntes independentes que se interligam em cada quadro. Lee também não se limita a quadros estáticos, quando necessário ele irá acompanhar todo o andamento da cena com uma câmera que segue a ação. O diretor também faz uso de cortes abruptos, deixando a encargo da imaginação do espectador continuar e concluir as cenas. Outro ponto belíssimo do trabalho de Lee é de revelar em cada quadro somente o que é de suma importância para o espectador acompanhar, todo o restante é suprimido da tela.

Vale destacar a trilha sonora de Fumio Yasuda, que sempre trabalhará para expor nas composições contidas no filme um complemento da psique dos personagens. Cada música ali presente, inabalavelmente, possui um sentido simbólico para a cena que está sendo exposta.

O elenco do filme, encabeçado também por Kang-sheng Lee, está regular no filme. A direção do filme não propicia muito espaço para algum componente se destacar aqui e reconhece a limitação de seus atores. Esses atores também não fazem concessões no momento das cenas mais quentes, dispondo de uma completa devoção ao que a obra requer.

‘Help Me, Eros’ é um filme que entretém seu espectador durante toda sua duração. Quando a excelente trama diminui seu ritmo, a direção trabalha por jamais deixar com que o filme perca em qualidade, com planos impecáveis e cenas verdadeiramente memoráveis. O final do filme ainda abre espaço para o campo da interpretação. A única certeza que o filme tatua na cabeça do espectador é o denso campo que rege a relação do ser humano com o mundo e os perigos de um distanciamento procurado dos componentes que nos caracterizam. Como dito acima, uma obra-prima do cinema de Taiwan e um filme necessário para qualquer amante do cinema oriental.
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