Crítica: ‘Desaparecido – Um Grande Mistério’(1982), de Costa-Gravas

Contando a história de um jovem ingênuo com aspirações
intelectuais que desaparece em meio a um golpe militar no Chile, o filme aborda
os aspectos políticos e familiares da questão. O filme conduz, de maneira
delicada e sombria, o drama de uma família em uma busca desesperada à procura do
jovem americano.

O filme tem seus primeiros 20 minutos calmos, contando a
vida de um jovem sem rumo, idealista, como o filme sugere, procurando por um
sentido para sua vida em um país em chamas, em meados da década de 1970. O
jovem, interpretado de maneira competente e discreta por John Shea, é casado
com uma mulher com contornos revolucionários (Sissy Spacek), que ignora o perigo
das ruas, procurando, quase de que maneira suicida, por algo que simplesmente
não está ali.

A atmosfera crua e angustiante do filme gera no espectador a
sensação de que algo espreita os jovens pelas sombras. O grande ponto de virada
do filme, após os primeiros 20 minutos, é no momento em que o roteiro engana o
espectador, dando a sensação de que o perigo vai atingir determinado
personagem, quando de fato o atingido foi outro. A edição contribui para isso,
deixando lacunas propositais na trama.
O segundo ato do filme se desenvolve após o desaparecimento
enigmático do jovem, fazendo com que seu pai saia dos Estados Unidos a procura
de seu filho. Jack Lemmon interpreta o pai do jovem de maneira grandiosa.
Lemmon traz, no início da apresentação de seu personagem, um homem
completamente ignorante em relação ao que estava acontecendo no Chile,
acostumado com uma vida tranquila e com muito dinheiro nos EUA, mostrando uma
postura superior com as pessoas à sua volta. No decorrer do filme, o personagem
vai sucumbindo ao desespero, se dando conta que a situação é irreversível.
 O elenco do filme está muito bem. Jack Lemmon, em talvez a
melhor atuação de sua carreira, ausente de exageros, não deixando o espectador
desenvolver empatia pelo seu personagem. O brilho de sua atuação não se dá em
virtude de uma ou duas cenas, mas quando se junta todos os 122 minutos do
filme. O personagem vai da confiança e prepotência iniciais até, no final, um
homem completamente desesperado, vítima das circunstâncias, de seu modelo de
vida, de sua falta de habilidade paterna. Lemmon nos conduz por todas essas
qualidades e fases que o protagonista passa de forma assombrosa. Em outra ponta, Sissy Spacek
realiza aqui a melhor atuação de sua vida. Intensa do começo ao fim, ela
consegue adentrar à psique de sua personagem, em um papel extremamente difícil. John Shea completa o elenco, entregando uma performance competente, conseguindo envolver o
espectador com toda a inocência de seu personagem.
A parte final apenas pontua de forma precisa toda a
atmosfera decadente do filme. Contando com uma trilha sonora marcante e uma
direção competente, a película, mesmo sem contar com cenas fortes, é
extremamente impactante. Trata-se da inocência quebrada, tanto por parte do
jovem desaparecido quanto de seu pai (acostumado com sua vida de conforto nos
Estados Unidos). O clima de tensão, envolto em
um completo mistério, faz sua conexão com ‘Zodíaco’(2007), de David Fincher, no
quesito de precisar apenas de um roteiro bem construído para deixar o
espectador apreensivo. Seu clima nostálgico, de um tempo inexistente passado,
nos remete à ‘O Silêncio do lago’(1988), de George Sluizer. O completo clima de
desespero que impera na segunda metade do filme aproxima os dois filmes, além
de sua fotografia fria, um pouco mais discreta em ‘Desaparecido’.

Nota CI: 7,4 Nota IMDB: 7,8

Filmografia:

MISSING.
Direção: Costa-Gravas. 1982. 122 min.
ZODÍACO.
Direção: David Fincher. 2007. 162 min. Título original: Zodiac.
SILÊNCIO do
Lago, O. Direção: George Sluizer. 1988. 107 min. Título original: Spoorloos.

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