Muito se
questiona sobre os limites que tangem um filme, sobre se seu conteúdo é
palatável e até mesmo de bom gosto. Bem, em ‘Paraíso – Esperança’, obra que
fecha a trilogia do ‘Paraíso’, esse limite é imposto pelo diretor. Ulrich Seidl faz um filme que tenta provocar seu espectador, sempre buscando os
caminhos mais sutis possíveis para fazer uma denúncia bidimensional sobre o
relacionamento de uma adolescente com seu médico. Infelizmente a obra acaba
entrando em um emaranhado de repetições insistentes, se tornando um filme
insosso e completamente ausente de sentido. Um filme curto, de apenas 92
minutos de duração, mas que se faz extremamente longo aos olhos seu espectador.
filme vai se concentrar nas experiências de Melanie, uma garota obesa de treze
anos, que é mandada para um acampamento de emagrecimento junto com diversos
outros adolescentes. Neste acampamento, sob o comando de um especialista um
tanto quanto ditador, a adolescente será exposta a uma série de conversas de
cunho sexual com as outras integrantes do acampamento, vendo sua sexualidade se
aflorar e desenvolvendo um estranho “affair” com o médico do lugar.
filme é ótima, questiona e investiga diversos elementos intrínsecos à
adolescência. Até mesmo seu início se faz muito produtivo, colocando o
espectador como se este estivesse escondido assistindo os desdobramentos
daquele acampamento. Toda a atmosfera emanada do filme em seus primeiros
minutos trabalha por alocar quem o assiste naquele ambiente.
começam a aparecer bem lentamente. É nas constantes, e provocadoras, consultas
de Melanie com o médico que o filme começa a tropeçar em seus próprios
caminhos. A relação perturbadora entre os dois é levada a tela de uma maneira
muito crua. Não há diálogos consistentes entre os dois, todo o material dado ao
espectador é por bases de expressões dos atores. Nenhum problema até aí. Porém,
o diretor escolhe por um estilo de filmagem com quadros estáticos, longes das
feições dos atores, tornando a função de analisar os atos dos personagens
praticamente impossíveis.
direção fica a encargo de Ulrich Seidl, como citado acima. Seidl está muito longe de ser um diretor mediano, o
indivíduo tem bastante talento. Aqui ele procura dar ao filme um estilo mais
pausado, como é habitual em sua carreira, focando sempre nas construções de
ambientes, pegando em cada quadro todo o cenário oferecido. O diretor também
trabalha bastante o clima atmosférico do filme, procurando sempre causar uma
sensação de imersão por parte do espectador àquele ambiente. Todo esse trabalho
só é possível com a bela cinematografia de Edward Lachman
e Wolfgang Thaler.
aqui a utilização de uma trilha sonora, algo que somente depõe a favor da
tentativa de dar um tom visceral ao filme. Seidl procura dar o filme o tom mais
realístico possível. Diferente de Todd Solondz, em filmes com uma temática similar a este, como ‘Felicidade’(1998) e
‘A Vida Durante a Guerra’(2009), Seidl jamais tenta atenuar o conteúdo trazido
ao espectador com o uso de uma trilha convidativa.
todo esse esforço na direção acaba se fazendo inútil em detrimento do péssimo
roteiro do filme, escrito por Seidl e Veronika Franz. Os diálogos contidos no filme, em sua maioria as conversas entre os
adolescentes, não vão para lugar nenhum. Não temos aqui nenhuma justificativa
para o filme trazer o que conta. Como se isto não fosse o bastante, algumas
situações são completamente inverossímeis, subestimando a inteligência de quem
as assiste.
formado quase que em totalidade por jovens atores, não possui muito o que
mostrar aqui. Seus diálogos são controlados e limitados. A protagonista, Melanie Lenz, segue a mesma linha, porém acaba tendo cenas esforçadas. Esse pouco
espaço dado aos atores está longe de ser um problema. O filme cria esse
distanciamento para sobrepujar as limitações do elenco.
muito de dizer que apesar dos erros o filme ainda acaba valendo a pena ser
assistido. No entanto, a extrema lentidão torna o filme quase insuportável em
determinado momento da trama. Em 92 minutos teremos quase uma dezena de cenas
simplesmente iguais, como a constante ida da jovem ao consultório do médico, ou
as cenas no quarto de Melanie. A sensação é a de estar assistindo uma mesma
cena durante todo o filme. Junte isso a um tema polêmico, o relacionamento da
adolesceste com o médico, que é explorado com pouca precisão e muita
superficialidade e você terá um filme que jamais deveria ter saído do papel.
Fica a impressão que a filmografia de Ulrich Seidl iria se fazer muito mais evidente, tendo em vista a qualidade de seu
trabalho, se ele colocasse essa energia em obras com algum conteúdo. Um filme
que encerra a saga do ‘Paraíso’ da mesma forma que começou, mostrando a
qualidade limitada da trilogia.
Esperança. Direção: Ulrich Seidl. 2013. 92 min. Título Original: Paradies: Hoffnung.
Direção: Todd Solondz. 1998. 134 min. Título Original: Happiness.
a Guerra, A. Direção: Todd Solondz. 2009. 98 min. Título Original: Life During Wartime.
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