Crítica: ‘Paraíso – Esperança’(2013), de Ulrich Seidl

Muito se
questiona sobre os limites que tangem um filme, sobre se seu conteúdo é
palatável e até mesmo de bom gosto. Bem, em ‘Paraíso – Esperança’, obra que
fecha a trilogia do ‘Paraíso’, esse limite é imposto pelo diretor. Ulrich Seidl faz um filme que tenta provocar seu espectador, sempre buscando os
caminhos mais sutis possíveis para fazer uma denúncia bidimensional sobre o
relacionamento de uma adolescente com seu médico. Infelizmente a obra acaba
entrando em um emaranhado de repetições insistentes, se tornando um filme
insosso e completamente ausente de sentido. Um filme curto, de apenas 92
minutos de duração, mas que se faz extremamente longo aos olhos seu espectador.

A trama do
filme vai se concentrar nas experiências de Melanie, uma garota obesa de treze
anos, que é mandada para um acampamento de emagrecimento junto com diversos
outros adolescentes. Neste acampamento, sob o comando de um especialista um
tanto quanto ditador, a adolescente será exposta a uma série de conversas de
cunho sexual com as outras integrantes do acampamento, vendo sua sexualidade se
aflorar e desenvolvendo um estranho “affair” com o médico do lugar.

 

A premissa do
filme é ótima, questiona e investiga diversos elementos intrínsecos à
adolescência. Até mesmo seu início se faz muito produtivo, colocando o
espectador como se este estivesse escondido assistindo os desdobramentos
daquele acampamento. Toda a atmosfera emanada do filme em seus primeiros
minutos trabalha por alocar quem o assiste naquele ambiente.
Os problemas
começam a aparecer bem lentamente. É nas constantes, e provocadoras, consultas
de Melanie com o médico que o filme começa a tropeçar em seus próprios
caminhos. A relação perturbadora entre os dois é levada a tela de uma maneira
muito crua. Não há diálogos consistentes entre os dois, todo o material dado ao
espectador é por bases de expressões dos atores. Nenhum problema até aí. Porém,
o diretor escolhe por um estilo de filmagem com quadros estáticos, longes das
feições dos atores, tornando a função de analisar os atos dos personagens
praticamente impossíveis.
O comando da
direção fica a encargo de Ulrich Seidl, como citado acima. Seidl está muito longe de ser um diretor mediano, o
indivíduo tem bastante talento. Aqui ele procura dar ao filme um estilo mais
pausado, como é habitual em sua carreira, focando sempre nas construções de
ambientes, pegando em cada quadro todo o cenário oferecido. O diretor também
trabalha bastante o clima atmosférico do filme, procurando sempre causar uma
sensação de imersão por parte do espectador àquele ambiente. Todo esse trabalho
só é possível com a bela cinematografia de Edward Lachman
e Wolfgang Thaler.

 

Não teremos
aqui a utilização de uma trilha sonora, algo que somente depõe a favor da
tentativa de dar um tom visceral ao filme. Seidl procura dar o filme o tom mais
realístico possível. Diferente de Todd Solondz, em filmes com uma temática similar a este, como ‘Felicidade’(1998) e
‘A Vida Durante a Guerra’(2009), Seidl jamais tenta atenuar o conteúdo trazido
ao espectador com o uso de uma trilha convidativa.
Entretanto,
todo esse esforço na direção acaba se fazendo inútil em detrimento do péssimo
roteiro do filme, escrito por Seidl e Veronika Franz. Os diálogos contidos no filme, em sua maioria as conversas entre os
adolescentes, não vão para lugar nenhum. Não temos aqui nenhuma justificativa
para o filme trazer o que conta. Como se isto não fosse o bastante, algumas
situações são completamente inverossímeis, subestimando a inteligência de quem
as assiste.

 

O elenco,
formado quase que em totalidade por jovens atores, não possui muito o que
mostrar aqui. Seus diálogos são controlados e limitados. A protagonista, Melanie Lenz, segue a mesma linha, porém acaba tendo cenas esforçadas. Esse pouco
espaço dado aos atores está longe de ser um problema. O filme cria esse
distanciamento para sobrepujar as limitações do elenco.
Gostaria
muito de dizer que apesar dos erros o filme ainda acaba valendo a pena ser
assistido. No entanto, a extrema lentidão torna o filme quase insuportável em
determinado momento da trama. Em 92 minutos teremos quase uma dezena de cenas
simplesmente iguais, como a constante ida da jovem ao consultório do médico, ou
as cenas no quarto de Melanie. A sensação é a de estar assistindo uma mesma
cena durante todo o filme. Junte isso a um tema polêmico, o relacionamento da
adolesceste com o médico, que é explorado com pouca precisão e muita
superficialidade e você terá um filme que jamais deveria ter saído do papel.
Fica a impressão que a filmografia de Ulrich Seidl iria se fazer muito mais evidente, tendo em vista a qualidade de seu
trabalho, se ele colocasse essa energia em obras com algum conteúdo. Um filme
que encerra a saga do ‘Paraíso’ da mesma forma que começou, mostrando a
qualidade limitada da trilogia.
Nota CI: 5,4 Nota IMDB: 6,7
Filmografia:
PARAÍSO –
Esperança. Direção: Ulrich Seidl. 2013. 92 min. Título Original: Paradies: Hoffnung.
FELICIDADE.
Direção: Todd Solondz. 1998. 134 min. Título Original: Happiness.
VIDA Durante
a Guerra, A. Direção: Todd Solondz. 2009. 98 min. Título Original: Life During Wartime.

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