Crítica: ‘Segredos de Sangue’(2013), de Chan-wook Park

Em seu
primeiro filme feito em inglês, Chan-wook Park tenta ao máximo deixar sua marca
nos novos espectadores, fazendo uma direção extremamente esforçada. Entretanto,
o roteiro fraco do filme acabou por delimitar os caminhos trilhados pelo
coreano. Um filme regular, que vale a pena ser assistido mais para ver o
trabalho de direção do que pela história em si.
O filme conta
a história da família Stoker. Os Stoker são uma família rica, composta pelo
casal Richard e Evelyn e sua filha, India. Adentraremos na história pouco após
a morte de Richard em um acidente e a chegada de seu irmão Charles, de quem
quase ninguém havia ouvido falar. A trama vai se concentrar no cotidiano cheio
de mistérios que permeia a vida da família e a forma como Charles irá se
adaptar a nova residência e como isso influenciará no cotidiano de India.

Todo o
desenvolvimento da história acaba se fazendo um tanto quanto amarrado desde o
começo. A história avança de maneira lenta, onde cada cena e diálogo parecem
oferecer pouco. O mistério por trás de Charles funciona na primeira parte do filme,
apesar do ritmo lento, nos deixando sempre ansiosos pelo próximo ato do homem.
Já o desenvolvimento de India, a personagem principal, segue o mesmo ritmo, se
fazendo devagar, mas trabalhando com bastante material para formularmos o que
rege o comportamento e as dúvidas daquela jovem que acabara de completar seus
18 anos.
Conforme o
filme avança em sua duração, os problemas do roteiro começam a ficar mais
evidentes. Tanto Charles quanto India acabam tendo um bom desenvolvimento de
personagem, o problema aqui acaba recaindo sobre a personagem de Evelyn. Evelyn
tem poucas cenas relevantes no filme, contrariando toda a premissa da história.
O que agrava ainda esse problema é o fato da personagem ser preponderante para
as resoluções no arco final.
Outro ponto
que depõe contra o roteiro, escrito por Wentworth Miller, são os desmembramentos dos mistérios que permeiam a família. Aqui eles
começam a ser dissolvidos a partir do último terço do filme, e acabam não
compensando o esforço da obra em deixar o espectador esperando por eles. A
natureza de Charles é exatamente aquela que o espectador acaba desconfiando nos
primeiros cinco minutos. Já India é conduzida da procura por respostas para os
mistérios da família como é clichê do gênero.

Essa pouca
entrega do roteiro de Miller é atenuada pela boa direção de Chan-wook Park.
Park parece perceber o quão raso é o roteiro e dá um foco, desde o começo do
filme, a parte estética. Procurando sempre fazer com que sua direção seja
notada, o diretor trabalha com uma enormidade de estilos de enquadramentos e
ângulos que parecem meio forçados no início, mas que logo vai se adequando com
o que Park tinha em mente.
Os outros
detalhes técnicos do filme, como fotografia, edição e trilha sonora, acabam por
seguir o padrão de qualidade do coreano. A fotografia consegue trazer à
sensação de imersão a atmosfera trazida pelo filme. A edição trabalha por dar
um ritmo mais acelerado a história. E a trilha sonora, não tão presente como
nos outros filmes de Park, procura tentar alavancar o suspense emitido pelos
personagens.

Entretanto,
nem tudo sai como planejado também na direção. A direção de atores de Park
parece ter ficado meio limitada, apesar de todos estarem muito bem ali. Diferente
dos filmes feitos em seu país, aqui não teremos atuações que ajudam a reger o
ritmo do longa. Mia Wasikowska, como a protagonista, conduz muito bem o filme, aliás, todo o trabalho
de câmera do diretor tenta criar uma aproximação entre ela e o espectador,
porém acaba faltando um pouco de uma perversidade em sua atuação, fato este que
acaba pesando contra o belíssimo final. Matthew Goode interpreta Charles, também se saindo bem, porém pecando muito no
exagero em várias expressões faciais durante o filme. E temos também Nicole Kidman fazendo a mãe de India. Não há muito o que falar de Kidman aqui, sua
personagem é completamente negligenciada pelo roteiro, acabando por desperdiçar
um talento que iria acrescentar muito ao filme.
‘Segredos de
Sangue’ fica muito longe de ser um trabalho que corresponda ao talento de Chan-wook
Park. Entretanto, é a oportunidade de ver o coreano querendo elevar seu nome
perante o quadro mundial. Diferente de Joon-ho Bong, que parece completamente à vontade em ‘Expresso do Amanhã’(2013),
também seu primeiro filme longe da Coreia, Park parece não ter tido toda essa
liberdade para criar os elementos clássicos de sua filmografia. Apesar dos
erros, o filme acaba tendo um final muito interessante.
Nota CI: 6,7 Nota IMDB: 6,8
Filmografia:
SEGREDOS de
Sangue. Direção: Chan-wook Park. 2013. 99 min. Título Original: Stoker.
EXPRESSO do
Amanhã. Direção: Joon-ho Bong. 2013. 126 min. Título Original: Snowpiercer.

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