Crítica: ‘Sob o Domínio do Medo’(1971), de Sam Peckinpah

Polêmico em
simplesmente todas as suas esferas, ‘Sob o Domínio do Medo’ transcende a visão
machista que faz das mulheres, entregando um filme ousado. Sam Peckinpah  cria um filme perturbador sobre
a exasperação social em uma terra quase sem leis. Some isso a uma direção
praticamente impecável e um Dustin Hoffman em chamas e você terá um dos grandes filmes presentes na década de
1970. Violenta e perturbadora, a obra de Peckinpah foi reeditada inúmeras
vezes, em diversos gêneros, nesses mais de 45 anos desde o filme, sem, no entanto,
se igualar ao que o diretor construiu aqui.
A história
que o filme tem a contar se passa nos confins de uma Inglaterra rural. David e
Amy, um casal despojado, decide migrarem dos Estados Unidos para este lugar,
onde seu pai deixou uma bela casa para os dois. Chegando lá, os dois percebem
que a atmosfera do lugar era meio estranha, sendo tratados com desdém,
especialmente David, pelos moradores do lugar. A trama do filme toma forma
quando os habitantes do local passam a incomodar o casal com jogos cada vez
mais perversos, até finalmente atingir um nível insustentável.
É importante
delimitar as personalidades do casal protagonista do filme, a fim de entender
seus comportamentos mediante as barbaridades a que são expostos. David é um
homem acostumado com uma vida de confortos oferecida pelo seu país de origem.
Professor de matemática e escritor, David vê no lugar afastado a oportunidade
de paz e tranquilidade para terminar seu livro. O personagem ainda se demonstra
um tanto quanto mimado e nutre uma ingenuidade inerente a sua pessoa. Já na
figura de Amy, encontramos uma mulher despreocupada, extrovertida e
extremamente desejada pelos homens. Amy gosta dos olhares que caem sobre ela.
Ela descarta usar sutiã e, em determinada ponto do filme, acaba se mostrando para
um dos trabalhadores de sua residência, com quem já havia tido um caso na sua
primeira estadia no lugar. Apesar de gostar dos olhares, Amy começa a se sentir
invadida quando a corrente atração do sexo masculina acaba se intensificando.

 

Amy e David
são pessoas extremamente diferentes, e essas diferenças ganharão proporções
cruéis no decorrer do filme. Entretanto, existe uma característica que os dois
conservam quase que por completo. Ambas são pessoas covardes. Os personagens
evitariam todos os seus problemas se tivessem um maior trato e convicção na
hora de lidar com os problemas que surgem no caminho.
Essa covardia
incomoda o protagonista, sendo acusado constantemente por sua mulher de ser
tolerante demais com as moléstias propiciadas pelos habitantes do local. Alguns
desses habitantes trabalham reformando a casa do casal, facilitando o acesso à
rotina deles. E é após esse sentimento de inquietação que David decide tentar
mostrar alguma virtude em seus atos, indo, em determinado momento do filme, atirar
em pássaros com os habitantes do local.

 

O ponto
central do filme se concentra nessa caça a pássaros empreendida por David e
seus molestadores. David é aconselhado por estes a ficar esperando
pacientemente até aparecer a oportunidade certa para ele atirar. Enquanto David
espera, os homens se escondem no lugar e alguns aproveitam a ausência do
protagonista de sua casa para se aproveitar de sua esposa. É neste momento que
o filme ganha contornos aterradores. Os indivíduos entram na casa de David e
acabam por estuprar sua esposa. A cena dura mais de 6 minutos, sendo
extremamente perturbadora, apesar de o diretor tentar ao máximo não expor a
atriz em demasia.
Toda a
intensidade cruel que Peckinpah distribui em tela se faz necessária pelo que o
filme tem a mostrar. Entretanto, o sentimento de náusea atrapalha um pouco na
absorção das implicâncias que aquela cena significa para o filme. Enquanto o
ato é cometido, temos cortes de uma sagacidade incrível da edição mostrando
David em sua empreitada atrás de um pássaro.

 

Em um desses
cortes da edição, vemos David finalmente conseguir acertar um pássaro. E é na
figura do pássaro morto, numa cena singela e arrebatadora, que encontramos todo
o desespero contido no psicológico de David. O homem parece perceber no pássaro
morto toda a liberdade retirada, usurpada de sua família. A morte do pássaro
desmembra em David uma experiência catártica que, enquanto sua esposa era
estuprada, incumbe um sentimento de abandono no espectador.
Vale a pena
entrar nas polêmicas do filme evidenciadas pela cena do estupro. Há na
construção da personagem de Amy uma rotulação pejorativa em sua substância.
Desde a primeira cena da mulher em tela, uma câmera fechada nos seus seios
cobertos apenas por uma fina camada de tecido, teremos uma exposição superficial
de sua persona. A mulher parece gostar, a priori, de se mostrar em público,
exasperando os comportamentos dos homens a sua volta, e na cena em que é
estuprada demonstra, em determinado momento, estar gostando de ser tratada
daquela forma.

 

A reta final
do filme ganha um tom acelerado. Todo o ritmo cadenciado da primeira parte do
filme é descartado, onde uma grande onda com toda a imundice do lugar atinge o
espectador. O clima da cidade parece ceder em um emaranhado de loucura que
acaba por atingir todos, inclusive David e Amy. David acaba inundado pelo ideal
de colocar um fim naquela rotina de abusos, indo contra todos e colocando sua
vida, assim como a de sua esposa, em perigo.
A direção de Sam Peckinpah é comedida em seu início. Dosando a quantidade de conflitos que surgem
na tela, Peckinpah acaba por preparar o terreno do que está por vir. A
atmosfera inicial do filme tem como objetivo retratar toda a aura decadente do
lugar, com casas caindo aos pedaços, ruas esquisitas e um bar apertado e nada
aconchegante. Todo esse trabalho é feito com a fotografia John Coquillon,
ajudando o diretor a construir o clima do lugar, utilizando uma tonalidade fria
e suja para causar repulsa no espectador.

 

No entanto,
toda essa monotonia inicial é quebrada pouco depois da metade do filme. Após
isso, as sequências do filme ficam completamente frenéticas. Peckinpah escolhe
por quebrar sua estética construída até aqui e utilizar enquadramentos
desconexos, evidenciando todo o clima de paranoia que se instala no ar. Cada
construção de cena literalmente arrepia o espectador, no melhor sentido da
palavra, criando fragmentos inesquecíveis. Todo esse trabalho de clima da reta
final proposto por Peckinpah não seria possível sem a edição fantástica
realizada por Paul Davies, Tony Lawson e Roger Spottiswoode. Os cortes são feitas com inquietação, não deixando o espectador
absorver o conteúdo passado. Tudo isso só engrandece a ideia de opressão
presente no filme.
Temos
encabeçando o elenco, dando vida aos personagens de Amy e David, Susan George e Dustin Hoffman. George acaba tendo uma atuação
competente, se destacando mais pela coragem de assumir uma personagem tão
complexa, do que por sua performance em si. Já Hoffman está irretocável no
filme. O ator consegue se adequar as duas partes do filme, sendo calmo e ingênuo
no início e assumindo um tom de insanidade na reta final. O martírio sofrido
pelo personagem só consegue perturbar o espectador devido aos nuances da
atuação do ator. Cada gesto, olhar e palavra do ator nos fazem acreditar que
ali está, de fato, um indivíduo quebrado pelo ambiente inóspito a sua volta.
Dustin Hoffman é um dos grandes do cinema e essa atuação somente “escancara”
isto.

 

As polêmicas
inseridas no filme não sobrepujam o que esta obra tem a oferecer. Uma verdadeira
obra-prima de Sam Peckinpah. O filme contém uma atmosfera e tema
muito parecidos com o que ‘Amargo Pesadelo’(1972) ofereceu no ano seguinte.
Essas duas obras se entrelaçam, servindo de modelo para inúmeros filmes de anos
posteriores que copiaram a fórmula de se criar o terror psicológico. ‘Sob o
Domínio do Medo’ investiga o quanto o ser humano pode “afundar” quando colocado
contra a parede.
Nota CI: 7,6 Nota IMDB: 7,5
Filmografia:
SOB o Domínio
do Medo. Direção: Sam Peckinpah. 1971. 113 min. Título Original: Straw Dogs.
AMARGO
Pesadelo. Direção: John Boorman. 1972. 109 min. Título Original: Deliverance.

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