Crítica: ‘A Chegada’(2016), de Denis Villeneuve

Contemplativo, ritmado e com construções filosóficas sólidas, ‘A Chegada’ acaba notabilizando-se por sua essência questionadora, sua habilidade de evocar dúvidas ao invés de tentar responder determinados itens. Denis Villeneuve, o diretor, procura sempre, a cada plano exposto, nos colocar para viver um pouco das experiências únicas que os personagens acabam passando.

A trama do filme irá se apoiar no aparecimento de diversas espaçonaves alienígenas ao redor do mundo, que acabam por estacionar em determinados locais e ali permanecendo sem maiores alardes. Obviamente, o fato provoca uma grande eclosão de histeria humana, gerando diversas crises sociais e a demanda por uma solução rápida para o “problema”. Dentre essas diversas naves espalhadas pelo mundo, focaremos na que estacionou nos Estados Unidos. Sem saber o que fazer, o exército local recorre a uma linguista notória, Louise Banks, para tentar revelar o que os alienígenas querem na terra. O filme passará suas duas horas de duração nessa luta pessoal da linguista e, como pano de fundo, os diversos fatores que vão surgindo que provocam conflitos entre os próprios seres humanos.

O começo do filme é extremamente lento, quase insosso, trazendo espectros da vida de Louise Banks antes dos alienígenas. Veremos como Louise teve uma vida marcada por experiências humanamente relevantes e a maneira que a mulher age mediante todos esses estímulos em seu dia a dia atual. O legal aqui é que o filme irá desconstruir essa noção inicial no decorrer da história.

Essa lentidão na trama elencará uma série de planos contemplativos, focados em mostrar toda a sensibilidade humana, mais especificamente da protagonista, em lidar com determinados temas de sua história. Essas cenas vão sempre partir de um pressuposto atemporal para reger seu simbolismo. E essa questão de tempo norteará toda a obra e é o que dará a ela seu ponto crucial.

Ainda nessa esfera inicial do filme, entraremos, em definitivo, na parte central da trama, o surgimento dos alienígenas. Conforme somos inundados com as informações sobre seu aparecimento, veremos o claro conceito da inabilidade do ser humano em lidar com o que lhe é estranho surgir em tela. Veremos como é de nossa natureza um retraimento e uma posterior agressividade quanto ao fator desconhecido.

Concomitante a isso, o filme nos apresenta essa raça alienígena como uma espécie altruísta. Todas as motivações intrínsecas aos seres estranhos ali presentes é de, ao final de sua estadia, promover melhoras mútuas. Essa constituição de ser apresenta um contraponto a tudo o que está sendo exposto nas relações interpessoais entre as autoridades responsáveis pelo caso em cada nação ao redor do globo. Veremos Estados Unidos, Rússia e China, por exemplo, agirem unicamente com motivações pessoais.

Aos poucos, conforme a trama avança, ainda mantendo um ritmo cadenciado, somos introduzidos, finalmente, na questão de tempo que irá pautar o que veremos dali em diante, bem como o que foi visto nas cenas anteriores. Aqui o tempo é apresentado como uma instituição efêmera. Tudo acontece muito rápido. A tentativa de captar o momento é sempre regida pelo insucesso. E é aqui que o filme colocará a ideia de tempo como um emaranhado não cronológico.

Passado, presente e futuro são construtos inexistentes. Aos olhos dos alienígenas, que conseguem, aos poucos, nutrir uma comunicação com Louise e alguns outros membros da equipe, a definição de tempo como é concebida no indivíduo simplesmente não existe. Por intermédio de Louise, veremos diversos pontos começarem a se ligarem. A construção de passado, exposta na vida de Louise, nos minutos iniciais do filme, é desconstruída. Logo veremos que itens anunciados como fatores de outrora, fixamente com uma ideia de passado, agora se transformaram em um futuro ainda não vivido. Porém, conforme avançamos mais alguns minutos, esse futuro nos parece algo já vivenciado pela personagem. Tudo se liga a um interminável emaranhado de acontecimentos sempre mutáveis.

O ritmo cadenciado da primeira metade é deixado de lado em determinado ponto do filme, já perto de seu momento derradeiro. Os pontos da trama, antes soltos, vão se ligando e provocando no espectador uma vontade de ver no que aquilo vai resultar. Toda uma grande gama de conceitos filosóficos e, até mesmo, religiosos começam a eclodir em tela. E, como dito no primeiro parágrafo, os minutos finais vão servir unicamente para impregnar no espectador mais dúvidas sobre o que foi consumido nesses 120 minutos de filme. E não somente dúvidas sobre a trama em si. O filme nos provoca um extremo senso de avaliação existencial de nossa própria vida.

É importante aqui fazer um grande paralelo com os caminhos escolhidos pelo filme para consumar sua relação com o tempo e, consequentemente, com a existência em si. A vida aqui é tida como algo planejada para um bem maior, um senso de predestinação refletido nas experiências de Louise. Tudo pelo que a protagonista passa é exposto como uma instância necessária. Seja para uma utilização pessoal ou social, todos os passos de Louise possuem uma causa per si, totalizando um ideal ascético em sua mais pura essência.

Porém, o maior ponto que irá surgir em tela é a noção de vida como uma construção de momentos. O instante surge como o único momento relevante em nossas vidas. Todo esse conceito de tempo como uma estrutura sem divisórias e não necessariamente cronológica, até mesmo questionando sua realidade, evidencia que tudo o que nos resta é o aqui e agora. O momento nos define, nos propicia substância. Passado e futuro são estruturas danosas para o indivíduo, o presente é a solução. O presente é o remédio último para qualquer sintoma. É o conceito de eterno retorno exposto por Nietzsche. É o momento como princípio inicial e final para qualquer situação. O filme nos apresenta e defende um ideal ascético para rechaçá-lo minutos depois.

A direção de Denis Villeneuve é impecável. Pautando-se, ponto a ponto, no que roteiro escrito por Eric Heisserer, baseado em uma história de Ted Chiang, lhe propõe, o diretor focará todas suas forças em tentar trazer planos que façam o espectador se sentir atingido pelo que está sendo mostrado. Atingido na forma positiva, com quadros expansivos e, sempre, evidenciando determinadas feições de seus atores. Em última análise, temos a construção dos efeitos visuais, como o das espaçonaves alienígenas. Villeneuve impressiona, utilizando quadros verossímeis, no entanto, isso é uma questão pequena quando decidimos olha para o todo. Vale dizer também que, talvez, o diretor tenha chegado em seu ponto alto da carreira. Todos os elementos cruciais de suas outras obras reverberam durante a execução deste aqui.

Teremos a sensibilidade de ‘Polytechnique’(2009) na composição dos quadros envolvendo a personagem principal; a brutalidade causal e um ordenamento inexorável de fatores de ‘Incêndios’(2010) está toda presente na construção de tempo da vida de Louise; o aspecto do estranhamento da realidade e para com a vida de ‘O Homem Duplicado’ é levantado nas cenas em que são tratados dos embates sociais emanadas da trama central e; a utilização de planos conceitualmente pesados, relatados por atmosferas frias e melancólicas de ‘Os Suspeitos’(2013) também ganha espaço aqui.

Vale apontar também para a bela trilha sonora do filme. Comandada por Jóhann Jóhannsson, essa trilha vai se basear na cautela. Todas as composições amparam-se no que a trama oferece, jamais tentando criar atenção isolada. Todo o ritmo cadenciado de grande parte do filme é regido por composições mais simples, pouco relevantes e discretas. Ao ponto que o filme aumenta seu ritmo, essa trilha segue a proposta e oferece composições que vão seguir os desdobramentos da trama e, especificamente, da protagonista, sempre aderindo ao senso contemplativo utilizado pela direção.

O elenco é composto por atores com boas atuações, como Jeremy Renner e Forest Whitaker. A ponta do filme é de Amy Adams e ela conduz muito bem essa posição. A atriz, como é habitual em sua filmografia, vai focar sempre em respostas físicas ou emocionais mais comedidas. As cenas de maior conflito da personagem jamais vão se basear em gritos, expressões fortes ou um comportamento exacerbado da atriz. Pelo contrário, aqui Amy Adams rege suas ações sobre o filme sempre com sutileza, usando expressões ponderadas e, quando necessário uma maior carga de ação sobre a cena, se guiando pelo simples.

‘A Chegada’ é uma obra que parte do pressuposto da ameaça que vem de fora para fazer determinadas críticas sobre nosso modo de agir sobre o mundo. A ideia de trazer conceitos tão amplos e ambíguos como existência e tempo em noções tão simples e retas é o que traz substância ao filme. E, como dito acima, aqui jamais obteremos respostas para essas questões. A proposta do filme não é essa. Aqui teremos perguntas levantadas e temas debatidos de maneira sensível. Um belo filme de um dos maiores diretores da atualidade.
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