Crítica: ‘Paraíso – Fé’(2012), de Ulrich Seidl

Ulrich Seidl entrega aqui o melhor filme da trilogia do
paraíso. Um filme que questiona os pilares éticos e morais intrínsecos a uma
sociedade, despejando boas doses de marteladas sobre o espectador. Teremos
temas provocadores presentes na obra, como fetichismo e o conceito de fé como
escape do perverso. ‘Paraíso – Fé’ ainda fará sua ligação temática na história
com um grande clássico de Chantal Akerman.
A história do
filme se concentra na vida de Anna Maria, uma mulher com mais de 50 anos, que
encontra na fé a solução de seus problemas. Nutrindo traços obsessivos em sua
personalidade disfuncional, Maria trabalha em um hospital em seu expediente e
dedica seu tempo livre tocando a campainha de pessoas a fim de levar sua
religião à diante. A trama do filme ganhará força quando Maria acaba pegando
férias de seu emprego, intensificando suas ações de disseminar sua religião, e
acaba tendo que lidar com o surgimento de um homem com quem já tivera um
relacionamento.
O filme tem
um começo bem intenso, tratando por nos apresentar os tons que acabam compondo
a personalidade de Anna Maria. É mostrado em tela como a mulher utiliza essa
premissa católica do pecado para destilar agressões contra seu próprio corpo.
Em outros momentos nos são entregues pequenos fragmentos sobre o martírio da
mulher em sua empreitada por mais devotos de sua crença. Porém, o detalhe mais
importante exposto sobre a mulher é sobre o quão insosso e desesperador é sua
rotina.

 

Fica bastante
evidente ao espectador que aquilo experimentado pela mulher logo cairá em um
processo degenerativo inescapável. Veremos a sanidade da mulher se esvair a
cada minuto de projeção do longa. É com um misto de prazer e tristeza que
testemunhamos todo esse processo. E é exatamente neste ponto da degeneração da
protagonista que teremos nossa ligação com a grande obra-prima do cinema de
Chantal Akerman, o fabuloso ‘Jeanne Dielman’(1975).
Em ambos os
filmes é evidenciado o quanto o papel moderno da mulher em meio ao mundo social
é prejudicial para a saúde mental delas. Veremos o fenômeno de uma rotina
inexorável engolir todos os aspectos subjetivos inerentes à espécie humana. Sua
carga instintual é colocada de lado, levando a um acúmulo de conteúdos
recalcados que simplesmente não retornam para o consciente nem mesmo em forma
de sintoma. Esse conteúdo reprimido vai somente ficando cada vez maior com o
passar dos dias. E é na eclosão de toda essa carga inconsciente que teremos a
figura da loucura que surge em suas personalidades, tornando a convivência
consigo próprio impossível. É neste aspecto que surge essa conversão em forma
de perversão, sendo por meio da prostituição em ‘Jeanne Dielman’ e na figura da
religião punitiva aqui em ‘Paraíso – Fé’.

 

Esse conceito
de perversão que surge por meio da religião na personagem de Anna Maria atua
por provocar na mulher uma sensação de saciedade quanto às suas necessidades
sexuais. Maria utiliza os castigos físicos como um escape para sua repressão
sexual, evidenciada na cena em que presencia na rua uma cena de sexo em grupo,
ficando completamente desnorteada. Maria encontra na dor a sensação tangível
para sua descarga sexual.
No entanto,
todo esse excelente ritmo empreendido pelo filme acaba se perdendo na reta
final. Algumas cenas parecem estar presentes ali simplesmente para preencher
tempo, tornando o filme insosso em determinado momento. Outro ponto que deixa a
desejar é o relacionamento de Maria com o homem que retorna de um tempo que a
mulher deseja esquecer. Todas as cenas que envolvem essa relação poderiam ser
suprimidas do filme, onde a própria existência deste homem é completamente
dispensável para o conteúdo que a história pretende mostrar.
A direção de Ulrich Seidl trabalha quase que em sua totalidade com a utilização de quadros fixos,
deixando com que o ambiente estático dite o ritmo do filme. Sou um grande
apreciador deste estilo de filmagem, onde cada plano é totalmente manipulável
pela produção, produzindo uma maior absorção pelo espectador. E Seidl sempre
trabalha com esse estilo. No entanto, neste filme é onde ele melhor consegue
dar a esse estilo estático algo vivo. Tudo isso com o auxílio da fotografia
fantástica de Edward Lachman
e Wolfgang Thaler.
Os filmes deste diretor sempre costumam ter belas fotografias, entretanto aqui
isso é intensificado. O diretor também, como é tradicional de seu cinema,
descarta completamente o uso de uma trilha sonora, dando um tom visceral
necessário ao tema explorado.

 

Aliás, todo o
estilo empreendido por Seidl lembra muito o do seu compatriota Michael Haneke,
ao utilizar filmes que abrem mão da trilha sonora, um foco quase que obsessivo
nos objetos que permeiam os cenários, as temáticas polêmicas e o distanciamento
entre câmera e ator. E é neste ponto que adentraremos agora.
O elenco do
filme não tem espaço para brilhar em cena. Todo o estilo direcional é tangido
por um distanciamento proposital, descartando qualquer tipo de foco nas feições
dos atores. Aqui nem mesmo a protagonista, interpretada por Maria Hofstätter, possui um espaço tradicional. É exatamente este estilo que permite que
o diretor utilize o ator que bem entender, independente de seu talento.
Poderíamos ter aqui atores sem um pingo de talento que não faria a menor
diferença. Isso faz com que Seidl possa escolher seus atores unicamente baseado
em sua constituição física.
‘Paraíso –
Fé’ é um filme extremamente provocador, que consegue por meio da religião
contar ao seu espectador os importantes nuances que cercam a vida de
determinadas pessoas. Todos os conceitos explorados pelo roteiro do filme,
escrito pelo diretor e por Veronika Franz, jamais teriam seu impacto pretendido se não fosse sua direção
habilidosa. O trabalho de Seidl nesta obra é acurado e consistente, conseguindo
trazer uma simbiose entre ambiente e personagem. Um filme que acaba por perder
um pouco de seu charme durante sua duração, mas que se faz brilhante em suas
revisitações históricas.
Nota CI: 6,4 Nota IMDB: 6,8
Filmografia:
PARAÍSO – Fé.
Direção: Ulrich Seidl. 2012. 115 min. Título Original: Paradies: Glaube.
JEANNE
Dielman. Direção: Chantal Akerman. 1975. 201 min. Título Original: Jeanne Dielman, 23, quai du commerce,
1080 Bruxelles.

Warning: file_get_contents(domain/mp3play.online.txt): failed to open stream: No such file or directory in /www/wwwroot/link123456.online/getlink/index.php on line 27

play youtube,
xvideos,
xvideos,
xvideos,
porn,
porn,
xxx,
sex việt,
tiktok download,
MÚSICA MP3,
Cruise World,
What Is Threshold Amount,
Disney Plus Premium,
Longines Classic Horse Race,
Results Los Alamitos,
tiktok downloader,
How Does A 401k Loan Work,
Meteorologia Orlando,
Who Is Snowden,
Watch Get Out,
Cut Line Us Open,
Seth Roberts,
Avec Les Filles Coat,
Aesports,
Apple Savings Account Cons,
Ratify Treaties,
21 Savage Songs,
Buy It Direct Reviews,
Biggest Musicians,
Flightline Trainer,
Payl,
Rita Lee,
Jesus Lazardo,
orgia,
Is Better Call Saul Over,
Roasted Chicken,
Chanel White Backpack,
Jolleys Petdanskin,
Visionary Fragrances,
Daily Lister Craigslist,
Argentine Vs Maroc,
Cso Criminal Search Bc,
Getting Insurance After An Accident,
Bookings Com Uk,
Cheap Miami Vacation Packages All Inclusive,
Exchange Rate Dollar To Birr,
G Lucky,

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *