Crítica: ‘Adeus, Meninos’(1987), de Louis Malle

Louis Malle
nos traz aqui uma verdadeira obra-prima. Temos com ‘Adeus, Meninos’ um dos
filmes que melhor retrata os prazeres e dissabores da infância. Um filme doce
e nostálgico, que evoca em seu espectador sentimentos bons e ruins.
A trama do
filme se desenvolve em uma escola comandada por padres, em meio à ocupação
alemã na França, no meio da 2ª Guerra Mundial. Adentraremos ao cotidiano
conturbado de Julien Quentin,
um garoto com algo em torno de 12 anos de idade, que, a priori, despreza do fato de ser
mandado por sua mãe para a escola. No entanto, pouco tempo depois, o garoto se vê completamente
inserido naquele ambiente escolar convidativo. A história ganha força quando novos
estudantes chegam à escola. Um deles, Jean Bonnet,
acaba formando um vínculo muito forte com Julien, criando um laço inquebrável
entre os dois. Entretanto, nem tudo é o que parece. O novo estudante esconde
segredos sobre suas origens. Segredos que poderiam colocar toda a escola
em risco.
O filme é
extremamente leve, mesmo quando decide andar por campos mais complexos, se
preocupando unicamente em seguir os passos dos personagens inseridos na trama. Toda
sua atmosfera é criada ao redor da vida naquela escola em que os meninos passam
a morar. A inocência contida no ar rege o ambiente, na qual iremos nos identificar
com cada evento que acontece na convivência entre os personagens. A
sensibilidade para tratar sobre o tema remete o espectador diretamente à ‘Conta
Comigo’(1986). Os dois filmes se complementam, teremos exatamente o mesmo clima
do clássico de Rob Reiner presente aqui.
O roteiro do
filme, também escrito por Malle, consegue obter êxito em sua investida
exatamente por conseguir retratar os pequenos detalhes da vida dos personagens.
Cada conversa, briga e punição a que são submetidos têm um sentido intrínseco. A virtude do roteiro é não minimizar os efeitos que cada situação
traz.
Já no campo
da direção, Malle não destoa da excelência proposta por seu roteiro. O diretor
escolhe por dar um ritmo cadenciado ao longa, tirando o máximo de substância de
cada cena. Aqui, ele repete seus melhores trabalhos, como ‘Trinta Anos Esta
Noite’(1963), aproveitando muito de sentimentos como tristeza e melancolia para
caracterizar a personalidade dos personagens.
O bom
trabalho de Malle também se faz presente na direção de seu jovem elenco. O diretor
consegue extrair o máximo do que eles têm a oferecer, sempre propiciando cenas
muito físicas. Ambos os protagonistas, Gaspard Manesse e Raphael Fejtö, estão ótimos no filme, chegando a
lembra muito a atuação de Christian Bale em ‘Império do Sol’(1987).
‘Adeus,
Meninos’ é um filme que traz ao seu espectador um vislumbre de um tempo que já
não existe mais. Assistir à obra de Louis Malle é como olhar para o nosso
próprio passado, nossa própria infância. O filme ainda traz em sua síntese o
quão prejudicial é uma tensão social na vida de uma criança e o quanto aquilo
pode marcar seu presente e comprometer seu futuro. Um filme ímpar em sua
categoria.
Nota CI: 7,3 Nota IMDB: 8,1
Filmografia:
ADEUS,
Meninos. Direção: Louis Malle. 1987. 104 min. Título Original: Au revoir les
enfants.
TRINTA Anos
Esta Noite. Direção: Louis Malle. 1963. 108 min. Título Original: Le feu
follet.
CONTA Comigo.
Direção: Rob Reiner. 1986. 89 min. Título Original: Stand by Me.
IMPÉRIO do
Sol. Direção: Steven Spielberg. 1987. 153 min. Título Original:
Empire of the Sun.

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