Crítica: ‘Flores Partidas’(2005), de Jim Jarmusch

No melhor trabalho de sua carreira, Jim Jarmusch nos presenteia com um filme cheio de significado sobre a vida de um homem envolto numa rotina vazia e pouco substancial. ‘Flores Partidas’ vai falar sobre a vida, seus nuances imprevisíveis, fazendo sempre uma ligação com a questão do tempo para o ser humano, utilizando-se de conceitos filosóficos concretos. Ainda teremos a chance de vislumbrar uma trama permeada de simbolismos a cada cena ultrapassada, propiciando ao espectador, apesar de sua dinâmica simples e aprazível, a possibilidade de tentar desvencilhar os laços que solidificam os comportamentos erráticos do personagem central.

A trama conta a história de Don Johnston, um solteirão de meia-idade, como o próprio se define em alguns momentos, que se encontra em um momento de estagnação em sua vida. Sua rotina é regida por dias inteiros em seu sofá, muitas vezes sem nem mesmo estar assistindo a algo na televisão, aparentando nutrir certo desprezo por sua vida. A história ganha sua substância quando uma carta anônima lhe é endereçada, informando-o sobre a existência de um filho, já adulto, que tivera com uma mulher do passado. É neste momento, com a ajuda motivacional de seu vizinho, que Don inicia uma busca, procurando as mulheres mais significantes de sua história passada, a fim de encontrar a origem da carta.

Logo na cena inicial, onde é mostrado os processos da concepção de entrega dos correios, o filme já trabalha com o aspecto da mudança inserido no mundo, evidenciando que alterações inimagináveis na vida do sujeito podem surgir de diversos meios e formas. Cena simples, sendo utilizada como apoio para a apresentação dos créditos iniciais, mas que trata por apresentar a forma que o filme trabalhará sua história.

Na reta inicial, adentraremos, por um curto espaço de tempo, no cotidiano insosso do personagem. Aqui, veremos como o desinteresse e desânimo pela vida atinge o homem, provocando dúvidas na condução de suas atitudes com seu meio social, em especial sua parceira. E, quando frente às dúvidas, o homem opta por simplesmente não agir. Ou seja, não é que Don escolha sempre a pior opção, o personagem nem mesmo escolhe. É neste ponto que encontraremos a noção de niilismo em Don.

Niilismo define-se como o desprezo pelo real, pelas instâncias que compreendem o mundo, em prol de uma “verdade” imaginária, inexistente, a aceitação de um além mundo, onde podemos fugir das confrontações do dia-a-dia. Vale dizer que a visão de niilismo é referente ao conceito Nietzschiano (ainda teremos mais um conceito do filósofo inserido no filme). Esse niilismo inserido no personagem age por torná-lo um indivíduo preso no tempo, preso em amarras invisíveis que o impedem de viver sua vida. A instância transformadora, com o poder de tentar tirar o homem dessa estagnação, aparece de fora, do mundo, mostrando-lhe novos caminhos.

A descoberta, por intermédio da carta, de que é pai de um jovem acaba agindo, em um segundo momento, após o baque inicial que o assusta, por trazer a necessidade de respostas para problemas passados em Don. E, mesmo movendo-se com uma dor inerente em sua busca por respostas, Don quebra, temporariamente, seu relacionamento com o nada e inicia sua jornada atrás de substância para sua vida.

No entanto, antes de avançarmos para a parte mais intensa do filme, devemos citar a forma diferente que o homem encara a figura do tempo. Don enxerga a inexorabilidade do tempo como um fator indolor, desprezando a perda de dias, meses e anos em atitudes pouco efetivas, já que ele se vê preso em um passado, sob uma redoma inquebrável de lembranças. Ou seja, o tempo não atinge Don de nenhuma forma.

Esse passado, onde Don uma vez contemplara a juventude e encontrara seu momento de maior significância em sua vida, é o tema que o filme passará a consumar todo o núcleo de sua história. A perda da juventude é dolorosa demais porque Don jamais consegue atingir um período de maturidade em seus passos. O homem perde a juventude e não ganha nada em troca, ficando alocado em um limbo temporal de lembranças. E somente a procura por experiências dessa juventude promoverá a chance do estudo de si mesmo em Don.

Concentrado na busca pela mulher com quem Don tivera seu filho, o filme terá a oportunidade de atingir seu ponto de maior destaque. Essa busca possibilita que Don se aloque sobre a passagem do tempo, dando-se conta que este passado não existe mais e percebendo o círculo de repetições vazias que sua vida se tornara.

Adentrando ao campo do simbolismo, todas as mulheres com quem Don conversa durante sua jornada, explicitam alguma ideia ou posição acerca de sua vida. Ao todo, são seis mulheres investigadas pelo filme que mostram fragmentos do passado do personagem e representam suas posições como instrumentos solidificados em seu pensamento: a 1ª é a mulher com quem Don vive (ou vivia) no começo do filme, representando todo o vazio inserido no homem; a 2ª, já no começo de sua busca por respostas, mostra o passado e o presente em um processo simbiótico, evidenciando o que Don outrora pôde ter e que já não lhe era palpável no presente e o que, de fato, poderia tocar; a 3ª mostra lacunas deixadas pelo tempo; a 4ª representa as mudanças do mundo, tendo o tempo como algo fluído, explicitando o devir inserido nos passos do ser humano; a 5ª mostra eventos turbulentos e dolorosos do passado e; a 6ª representa a morte do passado, algo enterrado e que jamais pode ser tocado novamente.

Os últimos passos da trama nos trazem o conceito proposto pelo filósofo Nietzsche de ‘Eterno Retorno’. Ao fim de sua caminhada pelo passado, Don percebe, finalmente, que passado e futuro são instâncias intocáveis da vida, simplesmente não existem, se dando conta que tudo que há é o presente, o momento, o aqui e agora. Fora do presente não há vida, há somente o vazio. Don, sempre com um sofrimento e melancolia intrínsecos a sua essência, percebe que o tempo passa, que o tempo machuca e, assim, acaba obtendo toda a carga dos vários anos de negação do presente o acertando de uma só vez.

Jamais saberemos o que Don fez com sua tão dolorosa descoberta. O filme acaba com cenas extremamente potentes, mostrando as dúvidas e certezas de um homem que acabara de despertar de um sono de mais de duas décadas. E, assim como o personagem, somos inundados com as mesmas dúvidas acerca da existência e atos de nossa própria caminhada pelo mundo.

Responsável por direção e roteiro, Jim Jarmusch apresenta um trabalho impecável. Ele sempre se utiliza de todos os estímulos presentes em cada cena, onde todas as formas de diálogos, mesmo que paralelas ao conceito principal, são de extrema importância para a absorção da história e da síntese de cada personagem. Jarmush, aproveitando-se do talento de seus atores, em especial seu protagonista, utiliza inúmeras cenas onde os personagens dizem frases inteiras somente com o olhar. Aqui, palavras só são utilizadas quando realmente se fazem necessárias. E, para finalizar, o cineasta foca na transposição de cenas simples, com planos suaves, que jamais chamam muito a atenção do espectador. O único momento de maior destaque é o plano final, que desmembra o construto psicológico do personagem em uma cena linda.

No elenco, temos uma grande conjunção de atrizes que vão compor as mulheres da vida do protagonista. Julie DelpySharon StoneFrances ConroyJessica Lange e Tilda Swinton, em atuações limitadas pelo tempo em tela, apresentam o necessário para expor os diferentes comportamentos e momentos da vida de cada personagem. No entanto, o destaque, obviamente, vai para o protagonista. Bill Murray, brilhante como sempre, nos propicia uma atuação pautada nos elementos que o ator concebeu em sua carreira, com uma melancolia inerente exalando de seus atos, olhares, gestos corporais e expressões faciais que mostram todo o compêndio de comportamentos do personagem.

‘Flores Partidas’ é uma obra que consegue com pouco tempo de duração (106 min.) expor toda a natureza de alguns comportamentos importantes do ser humano. Todos os conceitos filosóficos estudados possuem a coerência necessária para o filme, servindo para nortear cada momento dos fragmentos da vida do personagem explorado. Um filme leve, se movendo com situações pautadas no lado cômico do sofrimento e da vida, que provoca, ao seu término, dúvidas em seu espectador. Como citado antes, melhor filme do ótimo Jim Jarmusch.
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