Crítica: ‘A Vida dos Outros’(2006), de Florian Henckel von Donnersmarck

É sempre difícil trazer para o cinema histórias que retratem períodos políticos conturbados de determinados países. Essas obras, geralmente, possuem grande chance de tornarem-se insossas caso a direção não faça um bom trabalho. Aqui, no entanto, em ‘A Vida dos Outros’, o contexto político da época em que o filme acontece atua meramente como pano de fundo para evidenciar toda uma mentalidade pobre de um lugar regido por uma aura exacerbada. O filme ainda propõe ao espectador o estudo de vários conceitos disformes, como a visão limitada dos personagens expostos, a mentalidade do país que é guiada por uma moralidade dos fracos, a troca de posições sociais que o afeto provoca no ser humano e a noção de solidão e obsessão como uma estrutura danosa ao indivíduo.

A trama concentra-se nas vidas de três personagens: um escritor de peças de teatro, uma atriz e um agente do serviço secreto alemão. Todos inseridos na turbulenta Alemanha Oriental da década de 1980. Quando esse agente é incumbido de monitorar, por meio de escutas, as vidas do escritor e da atriz, ele acaba se vendo inserido em uma realidade na qual jamais teve acesso, vindo a ficar cada vez mais sugado pela vida dos dois, questionando seus deveres e suas construções morais.

A reta inicial da obra preza sempre em deixar claro qual vai ser a dinamicidade que será trabalhada, seguindo calmamente pela introdução dos personagens relevantes para a trama. Essa introdução serve para esmiuçar as personalidades de cada figura exposta no filme, trabalhando por não esconder absolutamente nada sobre seus eventuais comportamentos futuros. A grande jogada do roteiro centraliza-se unicamente nos desfechos dos passos dos personagens após essa abordagem inicial.

Essa primeira parte do filme também traz a visão política e social da Alemanha Oriental naquela época, mostrando como as pessoas do lugar nutriam uma visão completamente deturpada sobre o mundo. Aqui, o indivíduo é visto de uma forma ultrajante, dando a este uma capacidade intelectual limitada, revelando unicamente uma visão de mundo. Visão de mundo que trabalha unicamente em propiciar sofrimento à camada sem poder da sociedade alemã. E é neste ponto que a obra nos apresenta o conceito filosófico da moralidade dos fracos.

Moral dos fracos, segundo o conceito proposto por Nietzsche, caracteriza-se pela negação do real, do corpo, em prol de uma realidade ascética, que foge ao material realmente palpável pelo indivíduo. O grande fato danoso dessa moral, segundo Nietzsche, encontre-se na subversão dos valores realmente positivos do mundo, norteando a vida por construções falsas, valendo-se sempre de um niilismo intrínseco ao modo de ser. No filme, o conceito encaixa-se perfeitamente na sociedade alemã da época, que criava padrões de bons costumes surreais, desprezando a construção subjetiva do indivíduo, dizendo para este o que é bom e o que é ruim. O personagem principal, o agente do serviço secreto, é a materialização de todo esse construto danoso ao ser humano.

O agente que monitora a vida do casal de artistas se vê cada vez mais em dúvida sobre sua realidade quando começa a adentrar aos costumes, alegrias e tristezas de ambos os investigados. Logo, começa a conceber um novo ideal de homem, ignorando suas diretrizes seguidas à risca em outrora. A grande virada do roteiro acontece neste ponto, quando o homem começa a negligenciar seus deveres por encontrar no casal um reflexo turvo de si mesmo.

O filme sofre um desnivelamento brusco em seu rumo, alterando os caminhos dos personagens e dando mais velocidade à trama. Personagens trocam de posições, os deveres morais inseridos na síntese de cada um no começo da obra sofrem uma desconstrução e o valor da vida é suprimido mediante a concessão de liberdade. Cada um de sua forma, presos por uma estrutura social castradora, os personagens libertam-se de suas amarras, sofrendo, nos três eixos centrais da história, um processo simbiótico, mesmo que estes não se deem conta, resultando em cenas finais memoráveis, “tatuando” na cabeça do espectador todas as ideias propostas pela trama.

Dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck (que também é responsável pelo roteiro), o filme faz bastante uso de planos centrados na feição de seu protagonista, revelando, com cenas simples e despretensiosas, todo o vazio inserido naquele indivíduo, sofrendo uma espécie de congelamento do tempo. Esses planos são exclusivos do personagem. Quando adentramos planos onde o homem não está, veremos tomadas mais leves, utilizando construções de cenas mais ágeis e movimentadas. Donnersmarck opta somente por exacerbar o ritmo do filme nessas situações, guiando todo o resto da obra sem exageros superficiais. Todo o trabalho de ritmo fica localizado na trilha sonora impecável do filme.

Comandada por Stéphane Moucha e Gabriel Yared, a trilha sonora atua por nortear completamente os aumentos e diminuições das informações deixadas pelo roteiro. Quando necessário, essa trilha se faz sutil e cadenciada, expondo os gestos calmos do protagonista e do casal investigado. Conforme avançamos sobre a trama, a trilha aumenta a densidade de suas composições, aderindo às demandas de cada desdobramento da história.

Adentrando ao campo do elenco, temos atuações competentes que ajudam a dar peso a toda a história exposta pelo filme. Como o casal investigado, Sebastian Koch e Martina Gedeck conseguem expor toda a aura de repressão que rege o lugar e suas vidas, sempre com atuações comedidas, pautando-se na execução do simples. No entanto, a grande atuação é a de Ulrich Mühe no comando do filme. Muhe entrega uma atuação soberba, guiando completamente o filme, sempre baseando sua performance em uma expressão corporal precária, com um andar arrastado e cansado, dando intensidade somente em suas expressões faciais e olhares fortes. Uma atuação memorável do saudoso ator.

Intenso do começo ao fim, ‘A Vida dos Outros’ é uma obra irretocável. Um filme que se insere no âmago das exacerbações de uma sociedade errática, trabalhando com diversos conceitos diferentes, para constituir os elementos mais significantes de sua história. Uma verdadeira obra-prima do cinema alemão.
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